04 junho 2008

LIBERDADE PARA A HISTÓRIA

Próximo do final do ano passado lembrei aqui algumas palavras do saudoso Professor René Rémond (homem sério e integro) que levaram à constituição de uma associação, denominada "Liberdade para a História" que se batia contra as leis memorialistas, a primeira das quais a famigerada lei Gayssot (que prevê, como sabem, a condenação a um ano de prisão e uma multa de 45.000 euros qualquer pessoa que conteste o que o Tribunal Militar de Nuremberga, em 1946, estabeleceu como "crimes contra a humanidade"). Intento mais que justificado, tratando-se da História, que não deve conhecer outra limitação que lhe não advenha da heurística e hermenêutica correctas.

Parece, infelizmente que a morte daquele Professor veio a conferir a direcção da Associação a pessoas que se aprontam para trair os princípios daquela carta assinada por 19 historiadores (alguns deles os próprios...) e que conduziu à criação da Associação.

Na realidade na recente reunião de 31 de Maio, no anfiteatro Turgot da Sorbonne, sinais de preocupação começam a surgir do seio daquela que deveria ser uma associação de liberdade de investigação. A vice-presidente Françoise Chandernagor referiu que muitos historiadores receiam aderir à associação por causa da lei Gayssot (parece-me evidente que os que a defendem, temem a própria História) e que tal pode ser um estrave.

Uma sócia presente, adida de imprensa, sobre a polémica lei pediu a palavra para saber a posição da associação sobre a primeira das leis memorialistas - a Gayssot -, uma vez que se inscrevera na associação no pressuposto que a mesma defendia a abolição da lei.

A senhora Chandernagor, numa conversa tipicamente "redonda" classificou a lei como diferente das demais por se apoiar num julgamento internacional ("mesmo que se possa considerar que imperfeito"), que mais valia que não tivesse sido votada "mas que agora que a temos, podemos viver com ela, sendo de uma natureza completamente diferente das que lhe sucederam". O presidente, Pierre Nora, saiu à liça mostrando uma faceta muito mais perniciosa. "A nossa atitude não visava o conteúdo da lei mas o seu princípio que deveria ser incluido pois, caso contrário, seríamos acusados de ter feito uma excepção". Informou que lei jamais serviu para condenar historiadores (???) mas apenas "pretensos historiadores". Parece-nos clara, e lamentável, a referência ao Professor Faurisson (doutor em Literatura), embora se esqueça de aplicar o mesmo critério à sua vice-presidente (licenciada em Ciência Política e mestre em Direito Público) que publica novelas e alguns estudos históricos. Importaria, assim, saber o que caracteriza o ofício de historiador, mas isso seriam "outros quinhentos".

Voltando à carga a vice-presidente informou que a lei Gayssot era juridicamente superior e que apresentava menos riscos para os historiadores (mas trata-se de uma associção de liberdade para a história ou de qualquer émulo da comédia francesa?).

Outro associado Jean-Jacques Becker afirmou com clareza que a associação se destinou, fundamentalmente a apoiar Pétré-Grenouilleau (condenado por uma tese sobre o tráfico negreiro) e que tal assunto se encontra agora resolvido e que jamais tiveram a ilusão de que as suas posições conduzissem a abolição das leis memorialistas, apenas se pretendia lavrar um: Basta! É tempo agora de permitr aos historiadores trabalhar no seu ofício.

Jean-Pierre Azéma (um dos dezanove subscritores iniciais) declarou que a associação jamais exigiu (???) a abolição das leis memorialistas mas apenas uma releitura...

O filósofo e sociólogo Jean-Pierre Le Goff declarou que era favorável à abolição embora compreendesse que tal seria um verdadeiro cilindro-compressor para o pensamento politicamente correcto em História.

Um outro associado, Dominique Barthélémy, afirmou, ao invés que haviam exigido a abolição sem contudo a desejarem...

Tempos turvos ensombram a musa Clio em terras gaulesas.

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