MOTIVADO POR UM "POWER-POINT"
Um caro e bom amigo, mandou-me um “power-point” sobre o massacre e acto de barbárie ocorrido na localidade francesa de Oradour-sur-Glane, no início da tarde do dia 10 de Junho de 1944, levado a cabo pela 3.Kp./I. (terceira companhia do primeiro batalhão) da 2. SS-Panzerdivision Das Reich. A verdade é que aquele “power-point” denota claramente um mal que afecta a história das guerras, quase todas, são escritas pelos vencedores, do modo que lhes convém. Mas a verdade, também, é que alguns historiadores não se conformam e persistem em ser maçadores nestas coisas…
Importa, antes do mais relembrar que, face ao aumento dos ataques irregulares de Maquisards(1), em 3 de Fevereiro de 1944, o Marechal de Campo General e Comandante em Chefe do Oeste Hugo Sperrle promulgou as famosas 'Ordens Sperrle', que estabeleciam que se os partisans atacassem forças alemãs, medidas drásticas podiam ser imediatamente aplicadas, facto bem conhecido de toda a população.
As ‘Ordens Sperrle’ eram:
i.) Nós (Forças Armadas Alemãs) não nos encontramos nos territórios ocupados do ocidente para permitirmos que os nossos soldados sejam abatidos e raptados por sabotadores que ficam sem punição. As contra medidas até agora, apesar de alguns indesmentíveis sucessos, não alteraram a situação substancialmente se medidas imediatas de autoprotecção não forem tomadas em locais onde sejamos atacados ou confrontados com insubordinação.
ii.) Se as tropas forem atacadas de qualquer modo, o seu comandante é obrigado a tomar as suas contra medidas imediatamente, estas incluem:
iii.) Imediata resposta ao fogo. Se pessoas inocentes forem atingidas é lamentável mas integralmente culpa dos terroristas.
As imediações dos locais de tais incidentes devem ser imediatamente seladas e os civis dessas localidades, independentemente da sua qualidade devem ser aprisionados.
As casas de onde os tiros forem disparados devem ser imediatamente queimadas.
O relatório não deve ser realizado até que estas, ou medidas similares, sejam tomadas.
iv.) No julgamento das acções do comandante das tropas, a capacidade e rapidez de decisão com que agem deve ser vista como o aspecto primário. Um desleixado e indeciso comandante merece uma severa punição por colocar em risco as vidas dos que comanda e produz uma falta de respeito pelas Forças Armadas Alemãs.
As medidas consideradas posteriormente como demasiado severas não podem ser vistas, face à presente situação, como passíveis de punição.
Na realidade, as razões apontadas pelo comandante da companhia, Major Adolf Otto Diekmann, e as medidas tomadas ao abrigo das “Ordens Sperrle” e logo comunicadas ao quartel-general em Limoges às 5.30 da tarde desse dia justificariam a actuação nesses bárbaros tempos de guerra:
A companhia encontrou resistência em Oradour tendo sido encontrados cadáveres de soldados alemães executados. Ocupou-se de imediato a vila e procedeu-se a uma busca intensiva pelas suas casas. Infelizmente não foi encontrado Kämpfer [referência ao Major Helmut Kämpfer, popular comandante do III./SS-Panzergrenadierregiment 4 'Der Führer' e que fora raptado na véspera pela resistência comunista. A maior parte dos soldados SS afirma ter sido essa a razão de busca a Oradour(2)], todavia grandes quantidades de armas e munições foram encontradas. Por isso todos os homens da aldeia, que eram seguramente “Maquisards”, foram fuzilados.
As mulheres e as crianças foram encerradas na igreja enquanto tal decorria. Depois a aldeia foi incendiada dai resultando que as munições armazenadas em quase todas as casas tenham explodido. O incêndio da aldeia resultou no alastramento do mesmo à igreja onde igualmente se encontravam armazenadas munições no telhado. A igreja ardeu rapidamente e as mulheres e crianças perderam as suas vidas.
Importa referir que os cadáveres de soldados alemães executados mencionados no relatório se referem a soldados alemães feridos e aos tripulantes de uma ambulância que foram queimados vivos. O condutor e o passageiro ao seu lado haviam mesmo sido acorrentados ao volante antes do veículo ser incendiado. Foram igualmente encontrados corpos de soldados alemães no velho poço de Oradour-sur-Glane (3).
Independentemente da justificação do massacre, o mesmo causou - seguramente pela sua dimensão - uma generalizada onda de protestos dentro das forças alemãs, incluindo desde logo o Marechal Erwin Rommel e o governo francês de Vichy.
A primeira reacção foi a do comandante directo de Diekmann, Sylvester Stadler, que ao ter notícias do ocorrido de imediato reportou ao comando da divisão, do General Heinz Bernard Lammerding (a quem se atribui a culpa do massacre no “power-point” (4)), que o major Diekmann expressamente havia extrapolado em muito suas ordens - capturar 30 franceses e usá-los como moeda de troca pelo oficial nazi aprisionado pela resistência no dia anterior (mesmo esta ordem é de Stadler e não do general) – e solicitou que o processo subisse para julgamento em tribunal marcial. Diekmann não chegou a ser julgado, morrendo em combate poucos dias depois do massacre (29 de Junho), junto, aliás, com a maior parte dos soldados que destruíram e massacraram a população de Oradour-sur-Glane.
Como é evidente podia fazer-se um “power-point” que, sem fugir ao rigor, em nada diminuísse a barbárie cometida por Diekmann e os homens sob as suas ordens mas que, não eliminando razões, escondendo actuações igualmente reprováveis, e enquadrando as actuações dos homens na guerra que nunca serão iguais às nossas, apresentasse a realidade dos factos. Mas a aproximação à verdade parece, não raras vezes, não convir à lenda e aos negócios que dela florescem…
Importa, antes do mais relembrar que, face ao aumento dos ataques irregulares de Maquisards(1), em 3 de Fevereiro de 1944, o Marechal de Campo General e Comandante em Chefe do Oeste Hugo Sperrle promulgou as famosas 'Ordens Sperrle', que estabeleciam que se os partisans atacassem forças alemãs, medidas drásticas podiam ser imediatamente aplicadas, facto bem conhecido de toda a população.
As ‘Ordens Sperrle’ eram:
i.) Nós (Forças Armadas Alemãs) não nos encontramos nos territórios ocupados do ocidente para permitirmos que os nossos soldados sejam abatidos e raptados por sabotadores que ficam sem punição. As contra medidas até agora, apesar de alguns indesmentíveis sucessos, não alteraram a situação substancialmente se medidas imediatas de autoprotecção não forem tomadas em locais onde sejamos atacados ou confrontados com insubordinação.
ii.) Se as tropas forem atacadas de qualquer modo, o seu comandante é obrigado a tomar as suas contra medidas imediatamente, estas incluem:
iii.) Imediata resposta ao fogo. Se pessoas inocentes forem atingidas é lamentável mas integralmente culpa dos terroristas.
As imediações dos locais de tais incidentes devem ser imediatamente seladas e os civis dessas localidades, independentemente da sua qualidade devem ser aprisionados.
As casas de onde os tiros forem disparados devem ser imediatamente queimadas.
O relatório não deve ser realizado até que estas, ou medidas similares, sejam tomadas.
iv.) No julgamento das acções do comandante das tropas, a capacidade e rapidez de decisão com que agem deve ser vista como o aspecto primário. Um desleixado e indeciso comandante merece uma severa punição por colocar em risco as vidas dos que comanda e produz uma falta de respeito pelas Forças Armadas Alemãs.
As medidas consideradas posteriormente como demasiado severas não podem ser vistas, face à presente situação, como passíveis de punição.
Na realidade, as razões apontadas pelo comandante da companhia, Major Adolf Otto Diekmann, e as medidas tomadas ao abrigo das “Ordens Sperrle” e logo comunicadas ao quartel-general em Limoges às 5.30 da tarde desse dia justificariam a actuação nesses bárbaros tempos de guerra:
A companhia encontrou resistência em Oradour tendo sido encontrados cadáveres de soldados alemães executados. Ocupou-se de imediato a vila e procedeu-se a uma busca intensiva pelas suas casas. Infelizmente não foi encontrado Kämpfer [referência ao Major Helmut Kämpfer, popular comandante do III./SS-Panzergrenadierregiment 4 'Der Führer' e que fora raptado na véspera pela resistência comunista. A maior parte dos soldados SS afirma ter sido essa a razão de busca a Oradour(2)], todavia grandes quantidades de armas e munições foram encontradas. Por isso todos os homens da aldeia, que eram seguramente “Maquisards”, foram fuzilados.
As mulheres e as crianças foram encerradas na igreja enquanto tal decorria. Depois a aldeia foi incendiada dai resultando que as munições armazenadas em quase todas as casas tenham explodido. O incêndio da aldeia resultou no alastramento do mesmo à igreja onde igualmente se encontravam armazenadas munições no telhado. A igreja ardeu rapidamente e as mulheres e crianças perderam as suas vidas.
Importa referir que os cadáveres de soldados alemães executados mencionados no relatório se referem a soldados alemães feridos e aos tripulantes de uma ambulância que foram queimados vivos. O condutor e o passageiro ao seu lado haviam mesmo sido acorrentados ao volante antes do veículo ser incendiado. Foram igualmente encontrados corpos de soldados alemães no velho poço de Oradour-sur-Glane (3).
Independentemente da justificação do massacre, o mesmo causou - seguramente pela sua dimensão - uma generalizada onda de protestos dentro das forças alemãs, incluindo desde logo o Marechal Erwin Rommel e o governo francês de Vichy.
A primeira reacção foi a do comandante directo de Diekmann, Sylvester Stadler, que ao ter notícias do ocorrido de imediato reportou ao comando da divisão, do General Heinz Bernard Lammerding (a quem se atribui a culpa do massacre no “power-point” (4)), que o major Diekmann expressamente havia extrapolado em muito suas ordens - capturar 30 franceses e usá-los como moeda de troca pelo oficial nazi aprisionado pela resistência no dia anterior (mesmo esta ordem é de Stadler e não do general) – e solicitou que o processo subisse para julgamento em tribunal marcial. Diekmann não chegou a ser julgado, morrendo em combate poucos dias depois do massacre (29 de Junho), junto, aliás, com a maior parte dos soldados que destruíram e massacraram a população de Oradour-sur-Glane.
Como é evidente podia fazer-se um “power-point” que, sem fugir ao rigor, em nada diminuísse a barbárie cometida por Diekmann e os homens sob as suas ordens mas que, não eliminando razões, escondendo actuações igualmente reprováveis, e enquadrando as actuações dos homens na guerra que nunca serão iguais às nossas, apresentasse a realidade dos factos. Mas a aproximação à verdade parece, não raras vezes, não convir à lenda e aos negócios que dela florescem…
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(1) Estes eram combatentes ilegais, de acordo com a Convenção de Genebra de 1929, e como tal não se consideravam, como comprova a actuação para com um prisioneiro de guerra descrita na nota seguinte, sujeitos às mesmas. Importa referir que assim sendo as acções de represália, constantes da Ordem do Dia de 9 de Junho de 1944 “A posição relativa aos bandos de guerriha e tácticas para os combater”, eram absolutamente legais face à Convenção de Genebra e se inseriam nas “ordens Sperrle”.
(2) No dia do massacre, Diekmann – que era particularmente amigo de Kämpfe – recebera informações da Milice (forças paramilitares francesas que combatiam contra a resistência), de que Kämpfe (o oficial de maior posto a jamais ser capturado pela resistência comunista o que transformava a sua morte num grande evento) iria ser cerimonialmente executado – queimado vivo – pelos Maquisards em Oradour que era um verdadeiro ninho de resistentes. Efectivamente Kämpfe foi queimado pela resistência não em Oradour-sur-Glane, mas supostamente em Breuilaufa (um pouco a norte) no mesmo dia do massacre. Na realidade, antes de se dirigir a Oradour, Diekmann foi antes a St. Junien, dirigindo-se à administração local da SD. Aí ele e o Tenente-Coronel Meier acordaram, com um importante chefe da resistência preso, o modo de libertar Kämpfe, libertá-lo-iam mais a quantia de 35.000 Reichsmark, por troca de Kämpfe. Às 12:00, o chefe da resistência foi libertado mas não mais se soube dele, excepto um telefonema em que dizia não ter ainda encontrado os seus superiores.
(3) Importa referir que Otto Wendiger,o último comandante do Regimento Der Führer da Divisão Das Reich, defendeu as acções de Diekmann em Oradour-sur-Glane, testemunhando na defesa contra 21 dos participantes no massacre no julgamento de 1953. No livro sobre o regimento que escreveu, “Camaradas até ao fim”, afirmou que Diekmann possuía autoridade para ordenar a represália ao abrigo das “Ordens Sperrle”. Afirma igualmente que se encontrou em 1969 em Paris, com René Jugie antigo Maquis e chefe da região da Dordogne que lhe admitiu que Oradour-sur-Glane estava de facto pejada de armas e munições sendo, efectivamente, o centro de distribuição de armas e munições para a região da Dordogne.
(4) Tal deriva da posição oficial francesa emanada dos julgamentos de Bordéus em 1951 e 1953, em que foi condenado à morte in absentia pela responsabilidade (sim, em última instância, mesmo que comprovada a desobediência dos subalternos, pode ser sempre imputada a responsabilidade ao chefe) nos massacres de Tulle e Oradour-sur-Glane que sempre foram por ele negados. A própria Alemanha Federal sempre tão cooperante no pós-guerra na entrega de criminosos de guerra se recusou a enviar um inocente para a morte certa e recusou a sua extradição. Continuou a trabalhar como engenheiro civil e morreu de cancro em 1971 em Düsseldorf.
(1) Estes eram combatentes ilegais, de acordo com a Convenção de Genebra de 1929, e como tal não se consideravam, como comprova a actuação para com um prisioneiro de guerra descrita na nota seguinte, sujeitos às mesmas. Importa referir que assim sendo as acções de represália, constantes da Ordem do Dia de 9 de Junho de 1944 “A posição relativa aos bandos de guerriha e tácticas para os combater”, eram absolutamente legais face à Convenção de Genebra e se inseriam nas “ordens Sperrle”.
(2) No dia do massacre, Diekmann – que era particularmente amigo de Kämpfe – recebera informações da Milice (forças paramilitares francesas que combatiam contra a resistência), de que Kämpfe (o oficial de maior posto a jamais ser capturado pela resistência comunista o que transformava a sua morte num grande evento) iria ser cerimonialmente executado – queimado vivo – pelos Maquisards em Oradour que era um verdadeiro ninho de resistentes. Efectivamente Kämpfe foi queimado pela resistência não em Oradour-sur-Glane, mas supostamente em Breuilaufa (um pouco a norte) no mesmo dia do massacre. Na realidade, antes de se dirigir a Oradour, Diekmann foi antes a St. Junien, dirigindo-se à administração local da SD. Aí ele e o Tenente-Coronel Meier acordaram, com um importante chefe da resistência preso, o modo de libertar Kämpfe, libertá-lo-iam mais a quantia de 35.000 Reichsmark, por troca de Kämpfe. Às 12:00, o chefe da resistência foi libertado mas não mais se soube dele, excepto um telefonema em que dizia não ter ainda encontrado os seus superiores.
(3) Importa referir que Otto Wendiger,o último comandante do Regimento Der Führer da Divisão Das Reich, defendeu as acções de Diekmann em Oradour-sur-Glane, testemunhando na defesa contra 21 dos participantes no massacre no julgamento de 1953. No livro sobre o regimento que escreveu, “Camaradas até ao fim”, afirmou que Diekmann possuía autoridade para ordenar a represália ao abrigo das “Ordens Sperrle”. Afirma igualmente que se encontrou em 1969 em Paris, com René Jugie antigo Maquis e chefe da região da Dordogne que lhe admitiu que Oradour-sur-Glane estava de facto pejada de armas e munições sendo, efectivamente, o centro de distribuição de armas e munições para a região da Dordogne.
(4) Tal deriva da posição oficial francesa emanada dos julgamentos de Bordéus em 1951 e 1953, em que foi condenado à morte in absentia pela responsabilidade (sim, em última instância, mesmo que comprovada a desobediência dos subalternos, pode ser sempre imputada a responsabilidade ao chefe) nos massacres de Tulle e Oradour-sur-Glane que sempre foram por ele negados. A própria Alemanha Federal sempre tão cooperante no pós-guerra na entrega de criminosos de guerra se recusou a enviar um inocente para a morte certa e recusou a sua extradição. Continuou a trabalhar como engenheiro civil e morreu de cancro em 1971 em Düsseldorf.
Quanto ao caso de Tulle e seu julgamento, em 1951, menos conhecido que o de Oradour, reporta-se à actuação de retaliação das tropas do mesmo regimento, em 9 de Junho de 1944, quando naquela localidade encontraram os corpos de 62 camaradas seus, prisioneiros mortos e mutilados.
Etiquetas: Crimes de Guerra, Oradour-sur-Glane
1 Comments:
"Os que se expressam contra os assuntos europeus também são detidos. Por exemplo, em relação aos temas de regiões do mundo onde se deu a II Guerra Mundial. As pessoas estão autorizadas a escrever a verdade e a realidade sobre a II Guerra Mundial? Ou podem tomar medidas contra os sistemas vigentes?
Tenho a certeza que não, mas no Irão as pessoas expressam as críticas através dos canais legais e essas queixas são apreciadas. No entanto, vários cientistas europeus estão na prisão por terem expresso pontos de vista históricos."
Entrevista de Mahmoud Ahmadinejad (diz-me a embaixada que o "DN" a terá publicado na integra há dias, mas não verifiquei):
http://pt.euronews.net/2011/08/05/ahmadinejad-os-que-procuram-fabricar-a-bomba-sao-completamente-doidos/#.TkKRomo-wDU.facebook
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