25 fevereiro 2007

CRÓNICA PARA OS LEITORES WAGNERIANOS

Acabo de chegar da récita no São Carlos. Programa de peso para Wagnerianos - Die Walküre - a segunda das obras da incomparável Tetralogia "O Anel dos Nibelungos". A abertura do III acto é provavelmente o mais magnífico, e indubitavelmente dos mais popularizados, pedaço de música jamais escrito. Aliás em toda a obra um quase inigualável cromatismo musical, uma utilização, no limite, dos instrumentos e das vozes conferem-lhe uma dimensão épica que quase transcende a dimensão humana. O Mestre de Bayreuth explorou-as como ninguém na história da música.
A estreia de hoje, como o "Ouro do Reno" da temporada passada teve coisas muito boas e outras muito más.
Das más a continuação na aposta do "encenador" Graham Vick e nos figurinos de Timothy O'Brian. O que disse no ano passado aplica-se de novo. Desacerto e desajustamento parecem-me duas expressões adequadas. Independentemente do seu inegável mérito vocal, confesso que o colossal cantor preto, Ronald Samm, não seria a escolha óbvia para um "Siegmund" que em palco tinha como irmã gémea a bela e loira Anna-Katharina Behnke...
De bom, antes do mais, a prestação da Orquestra Sinfónica Portuguesa muito bem dirigida pelo esloveno Marko Letonja (ao que parece, embora não se notasse, estreante em Wagner; parece que já está contratado para o Siegfried e Götterdämmerung). Os cantores todos a bom nível, detaques para um francamente bom Wotan (Mikhail Kit), uma cativante Brünnhilde (Susan Bullock) e uma seguríssima Fricka (Judith Németh, que repete o papel do ano transacto). Entre as Valquírias merecem destaque uma cristalina Helmwige ( Sara Andersson), e as seguras Ortlinde (Andrea Dankova) e as nossas Gerhilde (Ana Paula Russo) e Waltraute ( Dora Rodrigues).
Entre os prós e contras, aquela música enche-nos sempre a alma...
P.S. - Amanhã há imagens.

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3 Comments:

Blogger Flávio Santos said...

Confesso que o que já sabia da encenação me afastou do S. Carlos. Embora música ao vivo seja outra coisa (e Letonja é um excelente maestro), prefiro ficar-me pelo meu Furtwängler...
No outro dia no Mezzo davam um "Barbeiro de Sevilha" em que o personagem principal até tinha telemóvel...

domingo, 25 fevereiro, 2007  
Blogger Flávio Santos said...

O muito conhecido início do III Acto não é a parte que mais me impressiona na obra. Sempre achei o início do II arrepiante. E o final, com Wotan o Deus demasiado humano, é de estarrecer pela beleza.

domingo, 25 fevereiro, 2007  
Blogger Humberto Nuno de Oliveira said...

O Acto II � fantástico, sublime mesmo, revela-nos Wotan "ich Unfreiester aller!" (o menos livre de todos), que no terceiro acto se abandona ao amor pela sua Brünnhilde que pelo desejo de Fricka se vê obrigado a punir, humanizando-se ainda mais e desvendando já o trágico fim dos ases...
Um abraço ao meu atento e wagneriano leitor cujo nome nem sei.

domingo, 25 fevereiro, 2007  

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