29 julho 2008

A ORIGEM DO MUNDO

A justiça pode caminhar sozinha; a injustiça
precisa sempre de muletas, de argumentos
Nicolae Iorga
(Historiador romeno)

Pedindo desculpa antecipadamente por eventualmente chocar os mais puristas, socorro-me, para ilustrar este postal, de duas imagens, distantes no tempo, mas ambas denominadas "A Origem do Mundo".

A primeira, e original, é o pequeno óleo (46x55 cm) de Gustave Courbet, L'Origine du monde, pintado em 1866 e actualmente exposto no Musée d'Orsay, Paris. Representa uma visão próxima dos genitais e abdómen de uma mulher nua numa encenação que claramente potencia o conteúdo erótico e realista, quase fotográfico, que no século XIX constituia uma verdadeira revolução, cujos mentores foram especialmente Courbet e Manet, rejeitando uma visão académica, idealizada e velada do nú.

Indiscutivelmente uma obra a um tempo pioneira e provocadora de um realismo emergente, foi várias vezes utilizada até Dezembro de 2005, em que a artista sérvia Tanja Ostojić, recuperou a imagem num poster satírico denominado "EU Panties".

Fazendo-se fotografar por David Rych, na pose do modelo de Courbet, mas envergando uma tanga com a bandeira da União Europeia, Tanja Ostojić ficou rapidamente conhecida, bem como a mensagem que pretendia transmitir: a de que as mulheres estrangeiras só eram bem-vindas na Europa quando deixavam cair a roupa interior... O "modelo" de Courbet, dois séculos depois de novo causava provocação.

Ironia ser uma sérvia a fazê-lo, ou apenas extensão/premonição da situação imposta ao seu país por essa mesma União Europeia. Não são apenas as mulheres de quem a UE espera que deixem cair a roupa interior. Estados há, o Sérvio por exemplo, a quem é exigida a abdicação da dignidade nacional para se sentarem à mesa da partilha do rebotalho. Triste sina a dos povos que, neste mundo globalizado, onde o capital impera e domina, se vêm vexados ao ponto de trairem cultura, história e religião para usufruirem do "progresso". Um progresso ditatorial, normalizador, castrador e que jamis pode entender - ou permitir - a diversidade, o orgulho nacional e o desejo de viver na sua Pátria com a sua gente.

Sinais do tempos ou a origem de um mundo novo, que admirável não será?

Etiquetas: , , , ,

1 Comments:

Blogger Nuno Castelo-Branco said...

Nada disso, HN. Apenas a constatação de que os pequenos países terão de estar sempre de ... perna aberta.

quinta-feira, 31 julho, 2008  

Enviar um comentário

<< Home