02 agosto 2010

QUEM NUNCA ERROU...

Amigo e filósofo da "blogosfera" que me merece a consideração de ser, diariamente, leitor da sua casa, comentou, refira-se, com total acerto o artigo de um antigo aluno meu (da licenciatura em Relações Internacionais), Raúl Braga Pires ("Quem nunca pecou que atire a primeira pedra", Diário de Notícias, Sábado 31 de Julho de 2010, p. 63), onde escreveu: Uma outra perspectiva perante estes anacronismos [no islamismo] será o simples exercício de colocarnos os calendários gregoriano e islâmico a par um do outro. Se o Ocidente se encontra em 2010, o islão encontra-se em 1431. Ora o que é que nós tínhamos em Portugal em 1431? A Inquisição. São cerca de 600 anos de diferença em termos de interpretação dos textos sagrados, de exegese...
Orientado para os estudos islâmicos o Raúl usa de alguma relativização para desculpar as diferenças entre os dois universos religiosos, argumento de que discordo mas que é isso mesmo: um argumento. A verdade é que nesse relativização, como bem nota o filósofo tranquilo o amigo Raúl descobriu que existia Inquisição em Portugal no ano de 1431. Errou exactamente um século...
Tendemos sempre a perdoar os nossos alunos (todos os Docentes me compreenderão) mas esta o Raúl tinha obrigação de saber porquanto, na cadeira de História Política e Diplomática de Portugal I , e por ofício de historiador lhe ensinei o que aqui vos deixo.
O termo Inquisição refere-se a várias instituições surgidas no seio da igreja dedicadas à supressão das heresias que assolavam o cristianismo. A Inquisição medieval, da qual derivam todas as outras, foi fundada em 1184 na Occitânia para combater a heresia dos cátaros ou albigenses, passado depois na transição para meados do século XIII para Aragão, adquirindo a sua forma “estatal” em finais do século XV, tornando-se a célebre inquisição espanhola com a junção de coroas que se operou no início do século XVI.
Entre nós foi inicialmente solicitada por D. Manuel I (como parte da promessa de casamento em 1501 com Maria de Aragão – filha dos “Reis Católicos”), embora só a 17 de Dezembro de 1531, o papa Clemente VII pela bula Cum ad nihil magis a tenha instituído entre nós, embora tendo revogado a decisão um anos depois. Só finalmente em 1533, D. João III, justamente filho de Dª. Maria de Aragão, a obteve em termos definitivos do papa Paulo III, mantendo-se, ininterruptamente no país até 1821.

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1 Comments:

Blogger harms said...

Pela parte que me toca a consideração é recíproca. Espero poder continuar a usufruir da visita diária do amigo Humberto - já agora, vou tentar corrigir alguns erros que ultimamente tenho dado, sobretudo a nível "gralhístico". Quem passa pela Cidade diariamente justifica-o. E quem não passa também. Saúde!

segunda-feira, 02 agosto, 2010  

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