26 novembro 2012

"NO OBSTANT AIXÓ, AQUEST"*

*Ainda não foi desta...

Uma, necessariamente muito breve, súmula histórica
A zona catalã foi, no período histórico, colonizada inicialmente por gregos e cartagineses a que se seguiu, a ocupação romana (em cerca de 218 a.C.). A administração romana integrou-a, inicialmente na denominada Hispânia Citerior, e a partir do ano de 27 a.C. na designada Tarraconense.
No século V, com as invasões dos povos germânicos, foram os Visigodos a instalarem-se nessa área onde se veio a fundar o reino de Tolosa que se manteve até à invasão berbere, embora posteriormente com capital em Barcelona.
A reacção carolíngia no final do século VIII logrou reconquistar algumas cidades locais, entre elas Barcelona. Um século mais tarde Carlos “o Calvo” nomearia um conde de Barcelona subordinado à sua suserania e somente em finais do século X os condados catalães lograram ser independentes da monarquia franca. No século XII o conde de Barcelona foi reconhecido como soberano pelos demais condes locais, ainda que não adoptando o título de rei.
No século XII o conde de Barcelona, Ramon Berenguer IV tornou-se rei de Aragão, em virtude duma união dinástica, derivada do seu casamento com Petronila de Aragão, formando-se a Coroa de Aragão que incorporava os territórios catalães.
No século XIII, Aragão-Catalunha tornou-se uma importnate potência mediterrânica, graças à conquista dos reinos muçulmanos de Maiorca e de Valência (onde ainda  hoje se fala catalão). O poder de Aragão aumentaria com a conquista da Sicília em 1282, da Sardenha em 1354, com o domínio de Atenas e Neopátria e Nápoles em 1442. O estatuto de grande potência mediterrânica conduziu a um notório desenvolvimento do comércio, da manufactura, das letras e das artes
Data deste período o primeiro contacto frutuoso com a monarquia portuguesa. Na realidade D. Isabel de Aragão (a rainha Santa Isabel), filha de Pere II de Aragão, casou-se com o nosso rei português D. Dinis, marcando, de modo indelével, a sua cultura em território nacional.
Mais tarde, no século XV, o Infante D. Pedro, filho do duque de Coimbra, D. Pedro (neto, portanto de D. João I), e de Isabel de Urgell foi nomeado rei, pelos catalães, reinando como Pedro V de Aragão, Pedro IV da Catalunha, Pedro III de Valência.
Somente em 1469, o Rei Fernando II de Aragão casou com Isabel I, Rainha de Castela o que conduziu a uma união dos dois reinos e à posterior formação de uma monarquia espanhola.
Menos de dois séculos depois, entre 7 de Junho de 1640 e 13 de Outubro de 1652, os catalães envolveram-se num conflito, conhecido como a Guerra dos Segadores, contra o domínio  do rei Felipe IV. O espoletar da guerra deveu-se ao incómodo da presença de tropas espanholas no seu território no âmbito da guerra dos Trinta Anos entre a França e a Espanha.
No século XVIII, quando Portugal e a Catalunha, sem cuja revolta provavelmente, não teríamos logrado obter a nossa independência, lutaram juntos contra o rei Filipe IV, não só se desenvolveram as relações de natureza militar, como também as de ordem cultural e diplomática, sendo uma das nossas primeiras embaixadas pós-Restauração.
Também, durante a Guerra de Sucessão de Espanha, a Catalunha apoiou o pretendente austríaco (tal como nós e a Inglaterra), e somente depois da Batalha de Monjuic (11 de Setembro de 1714), apesar do heróico combate, teve que se render às tropas do pretendente francês. O novo rei, Filipe de Anjou (V de Espanha), era neto do rei francês Luís XIV e incorporou os territórios da antiga Coroa de Aragão sob o nome de Catalunha. A região deixou de ter um estado próprio (a Generalitat e o Conselho de Cento), perdeu os seus direitos e foi incorporada à força definitivamente no Reino de Espanha.
Só nos finais do século XIX floresce o movimento "Renaixença", que retoma as reivindicações do catalanismo político.
Muitas mais, e eventualmente mais importantes, semelhanças e interesses estratégicos se poderiam apontar entre os nossos países o que tornaria estas notas demasiado extensas...
Importa referir que, em vários dos momentos de perda da sua autonomia se verificou pesada repressão sobre os derrotados bem como a repressão cultural e linguística.
Dir-se-á, pois que as condições para uma Catalunha independente são as ideiais e, merecem a aprovação dos portugueses lúcidos (e sobretudo independentes da imperial Espanha que todos - nós antes dos mais - sempre pretendeu colocar sob a sua pata). A Espanha de hoje é muito mais débil que em 1640, 1873, 1931 ou 1934 quando eclodiram as breves Repúblicas Catalãs. E condição de monárquico à margem não parece ser o rei, apelando à contenção dos ânimos independentistas, o personagem ideal, ele que é descendente dos Bourbon, os verdadeiros coveiros da independência catalã.
Portugal nada tem a perder, antes pelo contrário, com a já referida (os chavões são, propagandisticamente, sempre audazes) "balcanização da península", ou seja com a proliferação de estados livres e independentes que nos permitam uma relação paritária e, sonho, permita a um estado ladrão (e que não honra a sua palavra) a devolução de Olivença.
À pergunta fulcral de como deve Portugal encarar este fenómeno. Uma resposta parece clara: será uma indignidade não estender a mão aos desejos independentistas dos nossos aliados catalães que, em 1640, nos estenderam a mão e permitiram que Madrid, empenhado em subjugar aquela revolta, permitisse as "veleidades" portuguesas.
É tempo, pois, de estender a mão à Catalunha!

Etiquetas: , , ,