08 junho 2006

OS MITOS TAMBÉM SE ABATEM...

Subsistem, ainda, inúmeros mitos da "longa noite negra do fascismo em Portugal" (o primeiro dos quais será, obviamente, a inexistência do fascismo em Portugal...). A seguir ao 25A tudo o que era indesejável era "fascista", o homem que empurrava alguém no autocarro, o idoso que pretendia ser respeitado, o pai que pretendia exercer a autoridade, a senhora que se mostrasse desagradada com algum maior atrevimento de um qualquer cabotino da rua, enfim... a palavra dava para tudo o indesejado, que a malta por cá não é muito dada às ideologias nem ao rigor da linguagem.
De entre os inúmeros mitos subsistentes lembro o da "Gestapo portuguesa" (sim isto era dito e escrito...) a quase ineficaz (como o comprova um golpe de estado feito por dentro do regime) PIDE.


Um dos grandes mitos associados àquela polícia política foi o da sua responsabilidade no assassinato do terrorista Amílcar Cabral.

Mas como a história (quando a deixam... às vezes envolvem-na águas muito espessas e que não desejam a transparência) é como o azeite a verdade acaba por vir à tona. Então não é que documentos tornados públicos esta semana em Washington (lembro que os nossos queridos amigos americanos participaram, não obstante, ao longo dos últimos anos na versão pidesca do assunto...), revelam que menos de um mês depois do assassinato os Serviços de Informações e Investigação do Departamento de Estado apuravam que a maior parte dos sinais indicava que o assassinato foi resultado de rivalidade "entre mulatos das ilhas de Cabo Verde e africanos do continente", referindo ainda que tal espelhava fricções de longa data de carácter racial dentro da organização.
Mais adianta que são "problemáticas" as confissões dos elementos envolvidos na sua morte.
Face ao quase total silêncio sobre este assunto parece-me lícito concluir que o apuramento da verdade pouco importa à verdade da história entre nós, uma vez que a versão oficial (como se vê à revelia dos factos) já há muito convenientemente se encontra escrita...

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