16 março 2007

APONTAMENTOS EM TORNO DE UM MESMO TEMA...

Sabe bem quem me conhece que tenho por Ruben de Carvalho consideração intelectual e lhe reconheço inegáveis méritos, próprios do homem culto e inteligente que é. Raramente alinho em maniqueísmos (tão gratos à esquerda mas também a muita direita...) e parece-me de uma boçalidade elementar vê-lo apenas como o organizador da pérfida festa do "Avante" (onde até fui uma vez, há muitos anos atrás (79?80?81?)- ainda na Ajuda -, para ver e ouvir os Dexys Midnight Runners). O facto de lhe reconhecer méritos e, não raras vezes, concordar com o conteúdo das suas crónicas não me leva, naturalmente, a cair no extremo oposto do panegírico.
Na sua última crónica, em resposta a polémica levantada por um colega do Diário de Notícias, volta a glosar, ainda que de soslaio, a temática dos "Grandes Portugueses" e sobre ela fazer algumas considerações sobre a História que não me parecem precisas. O tema fulcral, como não podia deixar de ser, gravitava em torno da putativa final entre Oliveira Salazar e Álvaro Cunhal, e a respeito dela e respaldando as suas opiniões vertidas em crónica anterior nos "muitos do que a actual historiografia portuguesa possui de intelectualmente mais sério e profissionalmente mais empenhado" (aí como são de evitar tais juízos peremptórios) ergue a vara e zurze em alastrativas considerações de Filosofia da História. A questão no fundo é esta, Ruben de Carvalho não admite aquilo que se chamou de providencialismo na História (respaldado nos tais inquestionáveis mestres) - será que o não admite em absoluto, ou só nalguns casos? - e remata que se assiste a um regresso "às concepções da História como os feitos dos «grandes homens»" facto que não devemos estranhar, acrescenta, num momento em que se defende o regresso do latim à missa.
Presumo que Ruben de Carvalho, tal como eu, não será crente (em religião, entenda-se, ou nesta pelo menos), mas faço-lhe a justiça de saber o significado de católico (=universal), não percebo então que melhor universalidade que quebrar barreiras pela utilização de uma língua litúrgica comum. O caso até tem semelhanças. Pois não era a pátria mãe do socialismo que impunha na escolaridade da maior parte dos países do denominado "bloco de leste" a língua russa? O princípio "cheira-me" deveria ser o mesmo...
Mas deixemo-nos de caminhos ínvios, a verdade, como aquele jornalista bem sabe, é que se não é tempo de voltar aos tempos de uma história que gravitava exclusivamente em torno dos «grandes homens» não é seguramente de manter aquela que os apagava, pura e simplesmente, para exaltar as massas como fautoras únicas do "devir" histórico.
Ruben de Carvalho, como homem culto que é, sabe bem quão diferente seria a história das massas sem um Napoleão, um Hitler, um Estaline, um Salazar ou mesmo um Cunhal. É que há homens que, goste-se deles ou não, estão para além da aurea mediocritas e fazem História com as suas vidas.

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