27 junho 2007

REVISITANDO A ANTROPOLOGIA - FIM

Ensinava a Arqueologia que entre os Homo sapiens sapiens, existiam três registos fósseis profundamente diferentes: o Homem de Cro-Magnon, o Homem de Grimaldi e o Homem de Chancelade que teriam dado origem a essas sub espécies. É claro que, e lembrando uma expressão feliz, penso que do Abade Breuil (ou seria de Leakey? A memória já me trai…) o “berço da humanidade está sobre rodas”, todas estas evoluções ligadas a fósseis (antigamente chamavam-se “directores”) estão em permanente revisão e novos elementos aparecem com frequência.

A verdade é que a negação das sub espécies humanas parece ser impossível de sustentar e, assim sendo, a sua defesa ou extinção torna-se, não um pressuposto animal ou antropológico, mas cultural, com todas as influências a que tais pressupostos se encontram expostos. Chegamos assim a uma discussão, que foge contrariamente a todos os demais animais ao âmbito de uma questão animal, cultural entre o que poderemos denominar de “racialistas” e defensores da miscigenação.

O termo “racialista” é nesta acepção desejável ao de racista, porquanto, um, o primeiro, pressupõe a defesa de uma dada sub espécie ao passo que o segundo pode acompanhar essa defesa de concepções de relativa inferioridade ou superioridade biológica. E não é essa questão que aqui se analisa. Tal como para os equídeos não se cuidou de perceber “vantagens”, “superioridades” ou “inferioridades” entre um Percheron e um Lusitano. Antes, constatando-se a sua diversidade se concluiu pela utilidade da sua preservação. Outrossim se pretende aplicar a mesma concepção ao homem, membro do mesmo reino animal.

Tal como entre os restantes animais, também a reprodução humana assentou numa selecção sexual de proximidade. Os homens reproduziam-se no seio de um espaço geográfico reduzido e tal mantinha, como entre os demais membros do reino animal, e preservava as características da sub espécie. Naturalmente que a miscigenação entre duas sub espécies diferentes contribui para diminuir as diferenças genéticas entre elas (o que, como vimos, tentamos preservar em todos os demais animais), criando não uma nova sub espécie, mas um, em termos animais, híbrido. Todo este processo se iniciou no século XV, por influência primeira de Portugal, através do movimento das descobertas, sendo até então o fenómeno meramente residual. Desse primeiro processo de “globalização” resultaram num caso os denominados híbridos, noutros casos a extinção, pura e simples, de comunidades isoladas como, por exemplo, os aborígenes da Tasmânia. Assim as grandes migrações da época moderna foram o primeiro grande contributo para a redução da diferença genética entre as sub espécies humanas, num processo similar ao que, tantas vezes, determinou a extinção de outras espécies animais. A analogia não é, parece-nos, sequer rebuscada…

Durante séculos a alteração foi, naturalmente maior, nos “novos mundos” do que no “velho mundo” e tal mantinha a discussão convenientemente longe de portas. A constatação de que a América, pós-colombiana, experimentou, com a chegada de europeus, africanos e mesmo orientais, o surgimento de uma complexa população multirracial, ou por coerência de terminologia, de miscigenação de múltiplas sub espécies que a corrompeu em definitivo não é, de modo, algum uma observação “racista”, apenas a evidência de um facto histórico. Estaríamos disposto a aceitá-lo relativamente aos demais animais que subjugamos? A resposta foi já dada de modo inequívoco!


Chegamos ao ponto, pois, analisando o homem como animal, de colocar a questão: não terá o homem o mesmo direito de reclamar e pretender preservar as suas sub espécies, sem que tal implique qualquer acção contrárias às demais, tal como ele homem impõe aos restantes animais (é de facto, apenas, uma sobranceria racional humana pretender impedir o cruzamento das panteras com os tigres, por exemplo, porque falamos então, nesses casos de perigo de extinção?)? E aqui chegados a questão é meramente pessoal e cultural e nenhuma pode pretender sobrevalorizar-se à outra, muito menos a que vai prevalecendo por contrária à analogia com o reino animal, que controlamos, mas a que jamais deixaremos de pertencer…

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