UM ROSTO DO RACISMO
Ontem, num postal que aqui deixei interrogava-me sobre quem seria um tal Nuno Chullage que dava voz pelo monocromático SOS Racismo.
Uma breve pesquisa revelou-me a entrevista deste "mestre do hip-hop" (tinha que ser...), que aqui partilho com os leitores. Leiam-na atentamente e depois, com verdade, digam-me lá se tudo o que fica dito - por um membro do SOS Racismo - não é do mais puro, absoluto e completo racismo. E claro, se onde está África estivesse Europa, e onde estão africanos ou pretos estivesse europeus ou brancos é certo que o entrevistado já engrossaria o número dos prisioneiros políticos em Portugal.
Ora leiam lá... e digam de vossa justiça
Nuno Santos, aliás, Chullage nasceu há 25 anos em Portugal, país "racista e hipócrita", segundo as suas palavras. Fomos descobrir de onde vem e quem é este mestre do hip-hop. Para onde vai não sabemos, mas a sua coragem e força deixam adivinhar que está só no início
Sente-se um africano e é pelos Africanos que luta desde a adolescência. As suas posições políticas são categóricas: a ONU não tem voto na matéria e está ao serviço da América; os imigrantes têm o direito de vir para a Europa buscar aquilo que o Ocidente lhes tem vindo a roubar; se o Ocidente tem mais riqueza é porque andam a roubá-la ao resto dos países; paternalismo é racismo.
Rapresálias foi o seu primeiro e, até agora, único disco. Editou-o porque um amigo, emigrante português em França, "um país podre também", investiu todo o dinheiro no disco para o conseguir editar. Ultrapassaram-se as expectativas, e o disco está a ser um sucess0.
Este filho de pais cabo-verdianos (Ilha de S. Antão) começou a ouvir música pela mão do pai, também ele músico. Com 15 anos escreve as primeiras letras, desde sempre espelho do seu pensamento sobre a sociedade. As canções de Rapresálias são disso exemplo: "Sina de um Gajo, Foda-se",” À-Pala de Quem Não Come”, "A Igualdade é uma Ilusão", “Lutar Pela Nossa Vida”, “O Nosso Movimento”.
"A igualdade é uma ilusão"?
"Atingir a igualdade não é uma ilusão", diz ele, mas "esta igualdade que existe é uma ilusão". Para Chullage, os "homens só serão iguais quando puderem ser diferentes", e é por isso que quando lhe chamam preto responde: "Sim, sou preto, assumo toda a minha pretidão." Não pactua com aquilo que chama "a chantagem da integração", isto é, "querem que um preto se vista, se comporte e fale como um branco". Mordaz e directo nas palavras, Chullage acha "que chegou a hora de os negros deixarem de ser fodidos".
Para tal propõe que os negros se organizem e comecem a lutar pelo seu "power". Em vez de trabalharem para a riqueza dos outros, devem, sim, trabalhar para a sua, gerar postos de trabalho dentro da sua comunidade, procurar uma educação própria. Quando insisto em propor-lhe soluções mais "marxistas", responde-me, sem rodeios, que eu tenho uma luta - a luta de classes -, e que ele tem duas - a luta dos pobres contra os ricos e a luta contra o racismo.
Sente-se bem em qualquer bairro "dito problemático", e muito melhor no seu, a Arrentela, no Seixal. Acha que não há gangs em Portugal porque não se vêem "grupos de gajos organizados a praticar crimes". "Um grupo de cinco gajos que roubam juntos não é um gang". Os problemas da segunda geração de imigrantes seriam, sobretudo, causados pela desigualdade social: "Tu não tens aquilo que os outros têm e queres ter. Não digam que um gajo de 12 anos que foi roubar uns ténis é mau ou de um gang!"
Quando o questionamos sobre a insegurança não hesita em afirmar que são os media que criam o mal-estar e atribuem a insegurança à comunidade africana. "Os tugas estão sentados nos sofás deles na boa, se lhes perguntares se já foram assaltado dizem que não, mas se lhes perguntares se se sentem inseguros dizem que sim. Depois isto justifica mais polícias na rua". Polícia de que não gosta: "Vão ao meu bairro ofender-nos, chamam-nos pretos do caralho e eu acho que isso não é atitude para quem está ali a manter a ordem pública". Por isso, numa das suas canções escreveu que "a polícia é criminosa e quem julga também é réu".
"Busco a minha própria ideologia"
Durante toda a entrevista, Chullage fez questão de afirmar que "tem que procurar a sua própria ideologia", não se identificando directamente com os partidos marxistas, embora tenha votado na esquerda porque "partidos como o Bloco de Esquerda, ao menos, trazem à luz do dia os nossos problemas, e isso é muito importante". Lastima, porém, que não "haja nenhum partido onde os africanos tenham representatividade".
Este africano nascido em Portugal tem os olhos postos em todo o Mundo. Defensor da causa do povo palestiniano, considera incrível que as pessoas olhem para o que se está a passar no Médio Oriente e não façam nada. Só pode ser porque se "chegou à burrice total, ao conformismo total. Os israelitas e os americanos estão completamente feitos: o lobby judeu e os americanos é a mesma merda. Não têm legitimidade nenhuma para entrar no Afeganistão ou no Iraque. É tudo ilegítimo o que se está a passar - americanos, britânicos e esses G8s de merda. Enganam-nos para continuar a explorar e a sugar isto tudo".
Mas é da sua África que ele mais fala. A miséria do continente atribui-a ao Ocidente e "à ganância dos líderes africanos, que também são fantoches ao serviço do mundo ocidental. Manipulados pela França, os EUA e, no caso de Cabo-Verde, por Portugal". Acrescenta que esses líderes fantoches não são "de maneira alguma, representativos do povo africano, nenhum Zé Eduardo, nenhum gajo desses representa a África".
Chullage estuda sociologia no ISCSP, "uma universidade de direita mesmo! - que manda quadros administrativas para os Picoas e os World Trade Center da Tuga (Portugal)". Com mais amigos, prepara a Afrikaa, uma revista dirigida à comunidade negra. O seu próximo disco estará cá fora em breve. A sua luta, a da "igualdade que não é uma ilusão", essa continua...
Entrevista por Raquel Varela in Jornal 'RUPTURA', nº 53
Sente-se um africano e é pelos Africanos que luta desde a adolescência. As suas posições políticas são categóricas: a ONU não tem voto na matéria e está ao serviço da América; os imigrantes têm o direito de vir para a Europa buscar aquilo que o Ocidente lhes tem vindo a roubar; se o Ocidente tem mais riqueza é porque andam a roubá-la ao resto dos países; paternalismo é racismo.
Rapresálias foi o seu primeiro e, até agora, único disco. Editou-o porque um amigo, emigrante português em França, "um país podre também", investiu todo o dinheiro no disco para o conseguir editar. Ultrapassaram-se as expectativas, e o disco está a ser um sucess0.
Este filho de pais cabo-verdianos (Ilha de S. Antão) começou a ouvir música pela mão do pai, também ele músico. Com 15 anos escreve as primeiras letras, desde sempre espelho do seu pensamento sobre a sociedade. As canções de Rapresálias são disso exemplo: "Sina de um Gajo, Foda-se",” À-Pala de Quem Não Come”, "A Igualdade é uma Ilusão", “Lutar Pela Nossa Vida”, “O Nosso Movimento”.
"A igualdade é uma ilusão"?
"Atingir a igualdade não é uma ilusão", diz ele, mas "esta igualdade que existe é uma ilusão". Para Chullage, os "homens só serão iguais quando puderem ser diferentes", e é por isso que quando lhe chamam preto responde: "Sim, sou preto, assumo toda a minha pretidão." Não pactua com aquilo que chama "a chantagem da integração", isto é, "querem que um preto se vista, se comporte e fale como um branco". Mordaz e directo nas palavras, Chullage acha "que chegou a hora de os negros deixarem de ser fodidos".
Para tal propõe que os negros se organizem e comecem a lutar pelo seu "power". Em vez de trabalharem para a riqueza dos outros, devem, sim, trabalhar para a sua, gerar postos de trabalho dentro da sua comunidade, procurar uma educação própria. Quando insisto em propor-lhe soluções mais "marxistas", responde-me, sem rodeios, que eu tenho uma luta - a luta de classes -, e que ele tem duas - a luta dos pobres contra os ricos e a luta contra o racismo.
Sente-se bem em qualquer bairro "dito problemático", e muito melhor no seu, a Arrentela, no Seixal. Acha que não há gangs em Portugal porque não se vêem "grupos de gajos organizados a praticar crimes". "Um grupo de cinco gajos que roubam juntos não é um gang". Os problemas da segunda geração de imigrantes seriam, sobretudo, causados pela desigualdade social: "Tu não tens aquilo que os outros têm e queres ter. Não digam que um gajo de 12 anos que foi roubar uns ténis é mau ou de um gang!"
Quando o questionamos sobre a insegurança não hesita em afirmar que são os media que criam o mal-estar e atribuem a insegurança à comunidade africana. "Os tugas estão sentados nos sofás deles na boa, se lhes perguntares se já foram assaltado dizem que não, mas se lhes perguntares se se sentem inseguros dizem que sim. Depois isto justifica mais polícias na rua". Polícia de que não gosta: "Vão ao meu bairro ofender-nos, chamam-nos pretos do caralho e eu acho que isso não é atitude para quem está ali a manter a ordem pública". Por isso, numa das suas canções escreveu que "a polícia é criminosa e quem julga também é réu".
"Busco a minha própria ideologia"
Durante toda a entrevista, Chullage fez questão de afirmar que "tem que procurar a sua própria ideologia", não se identificando directamente com os partidos marxistas, embora tenha votado na esquerda porque "partidos como o Bloco de Esquerda, ao menos, trazem à luz do dia os nossos problemas, e isso é muito importante". Lastima, porém, que não "haja nenhum partido onde os africanos tenham representatividade".
Este africano nascido em Portugal tem os olhos postos em todo o Mundo. Defensor da causa do povo palestiniano, considera incrível que as pessoas olhem para o que se está a passar no Médio Oriente e não façam nada. Só pode ser porque se "chegou à burrice total, ao conformismo total. Os israelitas e os americanos estão completamente feitos: o lobby judeu e os americanos é a mesma merda. Não têm legitimidade nenhuma para entrar no Afeganistão ou no Iraque. É tudo ilegítimo o que se está a passar - americanos, britânicos e esses G8s de merda. Enganam-nos para continuar a explorar e a sugar isto tudo".
Mas é da sua África que ele mais fala. A miséria do continente atribui-a ao Ocidente e "à ganância dos líderes africanos, que também são fantoches ao serviço do mundo ocidental. Manipulados pela França, os EUA e, no caso de Cabo-Verde, por Portugal". Acrescenta que esses líderes fantoches não são "de maneira alguma, representativos do povo africano, nenhum Zé Eduardo, nenhum gajo desses representa a África".
Chullage estuda sociologia no ISCSP, "uma universidade de direita mesmo! - que manda quadros administrativas para os Picoas e os World Trade Center da Tuga (Portugal)". Com mais amigos, prepara a Afrikaa, uma revista dirigida à comunidade negra. O seu próximo disco estará cá fora em breve. A sua luta, a da "igualdade que não é uma ilusão", essa continua...
Entrevista por Raquel Varela in Jornal 'RUPTURA', nº 53
Etiquetas: Nuno Chulagge, Racismo, SOS Racismo
3 Comments:
Meu Caro
Deixo-lhe aqui o link desse tal Jornal Ruptura, pena que o número 53 não esteja disponível.
http://www.rupturafer.org/
Saudações Nacionalistas
Já agora, eis um postal meu, que aborda o mesmo tema, e envolve a Ministra Matilde Ribeiro, responsável pela Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial no Brasil.
http://navegacao-nacional.blogspot.com/2007/09/discriminao-dos-negros-contra-os.html
O gajo é mesmo racista.
Pelos vistos esteve aqui por perto numa reunião.
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